Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Álvaro de Campos era engenheiro naval e adepto da vanguarda futurista. Este verso é parte integrante da “Ode Triunfal”, poema escrito na fase futurista do poeta. Nesta fase, o heterónimo procura espelhar a civilização industrial através de uma poesia de exaltação à máquina, de sensações modernas, de energia e de um excesso algo doloroso. A composição realizada procura comunicar todos estes aspectos e ilustrar os elementos descritos no verso em questão.
Concordámos que as cores preto, cinzento e branco seriam adequadas para fazer o trabalho, por transmitirem (principalmente o preto) a angústia existencial que atravessava o poeta, e por serem predominantes em contextos industriais.
No conjunto, a imagem representa um maquinismo em funcionamento, procurando precisamente transmitir a dinâmica e a “fúria” desse sistema de “rodas” e “engrenagens”. Nesta composição tipográfica, as frases extraídas do poema em questão ocupam o lugar das engrenagens, enquanto o restante texto de vinte e quatro linhas foi trabalhado com o objectivo de constituir as rodas da estrutura mecânica.
Optámos por separar a parte referente ao “r-r-r-r-r-r-r eterno” do mecanismo, colocando-a verticalmente na extremidade direita da página. Fizemo-lo para reforçar a ideia de conjunto e porque pensámos que seria uma forma harmoniosa de incluir a onomatopeia presente no verso. Portanto, quando vemos a imagem, observamos a presença do maquinismo, e, a seu lado, representado de uma forma diferente, o som que dele provém. Utilizámos também o efeito “inner bevel” numa parte do texto, o que permitiu que as palavras fossem revestidas com um efeito metalizado, próprio das máquinas.
Com tudo isto, o trabalho realizado ilustra o mecanismo (composto pelas palavras que a ele são inerentes – “rodas”, “engrenagens”, “maquinismo”, “espasmo”, “fúria”) e destaca o intenso som provocado, aspecto reforçado pela presença do ponto de exclamação.