quinta-feira, 28 de abril de 2011

Terceira proposta de trabalho - Cor - segundo resultado final

 Original



Alterada


Neste caso, optámos por abordar a ideia pré-formada de que se associa a cor azul aos rapazes e, por sua vez, o cor-de-rosa às raparigas. Desta forma, trabalhámos uma imagem em que cada um estivesse com a sua cor "respectiva", trocando-as no resultado final. Invertemos a comunicação, na medida em que boicotámos o estereótipo das cores associadas ao sexo das crianças. Porque não o azul para a menina e o cor-de-rosa para o menino? A nova imagem vem, assim, relativizar a importância desta convenção social, na medida em que a inversão das cores não altera, de facto, o sexo de nenhuma das crianças.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Terceira proposta de trabalho - Cor - primeiro resultado final



A primeira imagem escolhida para manipulação da cor, de forma a inverter a intenção comunicativa, remete para a mulher perfeita dos anos 50 - a chamada perfect housewife. Esta era uma imagem frequente nas revistas da época e ilustrava a ideologia do papel da mulher na sociedade, como dona de casa (a "fada do lar" na versão portuguesa). Nesta proposta de trabalho, em que a mensagem comunicada deveria ser modificada através da edição de cor, achámos engraçado mudar a cor da pele da senhora na imagem, tornando-a numa mulher de pele negra. Isto porque, tratando-se de uma imagem dos anos 50, época onde ainda dominavam valores racistas, principalmente na classe social representada na imagem, seria impossível o surgimento de uma publicidade com uma mulher negra no papel central, esperando que o marido (branco!) chegasse a casa. 
A imagem criada vem transmitir duas novas mensagens. Além de ser uma resposta sarcástica à "mulher perfeita" anunciada nas revistas, é um protesto assumido contra o racismo e a segregação racial. A ideia foi deturpar toda a essência da primeira imagem e ainda alertar para outra problema enfrentado, ao longo da história, na sociedade ocidental. 
Se na primeira imagem lemos "a mulher perfeita é aquela que espera o marido em casa, com o jantar feito e a casa limpa", na segunda imagem lemos "a imagem da mulher perfeita é tão absurda como o racismo".
O objectivo deste trabalho não era abordar questões de racismo ou do papel da mulher na sociedade, apenas achámos que, neste caso, a mudança da cor da pele conduziu, de facto, a uma total mudança da intenção comunicativa da primeira imagem.

A importância da cor (alguns exemplos)

Estações do ano
Indicações

Sentimentos, emoções

Política

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Segunda proposta de trabalho - Tipografia - Ricardo Reis






Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

Nesta composição tipográfica de Ricardo Reis, realizada a partir dos versos acima apresentados e retirados do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio", decidimos dar especial importância ao factor memória, representando, assim, uma mancha negra indefinida (tal como a própria memória humana, esta é uma ausência de exactidão), que pretende exactamente transmitir a ideia da memória do poeta acerca de uma certa realidade - Lídia à beira rio. Por isso, tudo aquilo que o sujeito poético descreve como uma recordação foi, assim, inserido no interior da mancha, por não fazer parte de um acontecimento presente mas, sim, recordado.
As linhas apresentam uma ligeira sinuosidade por estarem estreitamente ligadas ao termo "rio" presente nos versos, concebendo, assim, alguma dinâmica à composição visual. 

Segunda proposta de trabalho - Tipografia - Alberto Caeiro




Tristes das almas humanas que põem tudo em ordem
Que traçam linhas de coisa a coisa
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais
E traçam paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente mais verde e florida que isso!

Alberto Caeiro é o mestre de Fernando Pessoa e dos restantes heterónimos, porque considera que existir é uma alegria e que essa existência deve abolir o pensamento. Para ele, o pensamento “envenena” e falsifica a realidade e, portanto, o ser humano deve ver as coisas como elas são, no seu estado natural. Daí que venere a Natureza e procure senti-la em plenitude. Este excerto do poema “Um renque de árvores” resume bem a sua visão sobre o mundo e a nossa composição tipográfica também pretende retratar os aspectos referidos acima.
Esta imagem apresenta uma divisão. Só algumas partes do excerto foram consideradas “dignas” de um trabalho mais complexo. É relativa à própria divisão que observamos no excerto em questão: a divisão para a qual o  poeta alerta. Alberto Caeiro fala-nos nas “almas humanas que põem tudo em ordem” e que “traçam paralelos de latitude e longitude/ Sobre a própria terra inocente”. Estabelece desde logo o antagonismo entre o vício humano de intelectualizar a realidade e a capacidade de desfrutar a própria Natureza. Portanto, nesta composição, decidimos colocar os versos que descrevem essa “triste” atitude do ser humano ordenados em poema (respeitando o esquema formal da poesia) precisamente para comunicar esses aspectos relativos ao intelecto humano e que comandam a existência (a lógica, a forma, etc.). Por outro lado, e para estabelecer o contraste, decidimos investir nos elementos que Alberto Caeiro valoriza e que constituem a única verdade: daí as partes do poema referentes às “árvores absolutamente reais” e à “própria terra inocente mais verde e florida que isso” sirvam de base para ilustração tipográfica de uma árvore e da terra. A terra e a árvore destacam-se, transmitindo, assim, a crença do poeta num mundo sem sombras e que deve ser sentido através da simplicidade da Natureza.

domingo, 3 de abril de 2011

Segunda proposta de trabalho - Tipografia - Álvaro de Campos



Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!


Álvaro de Campos era engenheiro naval e adepto da vanguarda futurista. Este verso é parte integrante da “Ode Triunfal”, poema escrito na fase futurista do poeta. Nesta fase, o heterónimo procura espelhar a civilização industrial através de uma poesia de exaltação à máquina, de sensações modernas, de energia e de um excesso algo doloroso. A composição realizada procura comunicar todos estes aspectos e ilustrar os elementos descritos no verso em questão.
Concordámos que as cores preto, cinzento e branco seriam adequadas para fazer o trabalho, por transmitirem (principalmente o preto) a angústia existencial que atravessava o poeta, e por serem predominantes em contextos industriais.
No conjunto, a imagem representa um maquinismo em funcionamento, procurando precisamente transmitir a dinâmica e a “fúria” desse sistema de “rodas” e “engrenagens”. Nesta composição tipográfica, as frases extraídas do poema em questão ocupam o lugar das engrenagens, enquanto o restante texto de vinte e quatro linhas foi trabalhado com o objectivo de constituir as rodas da estrutura mecânica.
Optámos por separar a parte referente ao “r-r-r-r-r-r-r eterno” do mecanismo, colocando-a verticalmente na extremidade direita da página. Fizemo-lo para reforçar a ideia de conjunto e porque pensámos que seria uma forma harmoniosa de incluir a onomatopeia presente no verso. Portanto, quando vemos a imagem, observamos a presença do maquinismo, e, a seu lado, representado de uma forma diferente, o som que dele provém. Utilizámos também o efeito “inner bevel” numa parte do texto, o que permitiu que as palavras fossem revestidas com um efeito metalizado, próprio das máquinas.

Com tudo isto, o trabalho realizado ilustra o mecanismo (composto pelas palavras que a ele são inerentes – “rodas”, “engrenagens”, “maquinismo”, “espasmo”, “fúria”) e destaca o intenso som provocado, aspecto reforçado pela presença do ponto de exclamação.