quinta-feira, 7 de abril de 2011

Segunda proposta de trabalho - Tipografia - Alberto Caeiro




Tristes das almas humanas que põem tudo em ordem
Que traçam linhas de coisa a coisa
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais
E traçam paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente mais verde e florida que isso!

Alberto Caeiro é o mestre de Fernando Pessoa e dos restantes heterónimos, porque considera que existir é uma alegria e que essa existência deve abolir o pensamento. Para ele, o pensamento “envenena” e falsifica a realidade e, portanto, o ser humano deve ver as coisas como elas são, no seu estado natural. Daí que venere a Natureza e procure senti-la em plenitude. Este excerto do poema “Um renque de árvores” resume bem a sua visão sobre o mundo e a nossa composição tipográfica também pretende retratar os aspectos referidos acima.
Esta imagem apresenta uma divisão. Só algumas partes do excerto foram consideradas “dignas” de um trabalho mais complexo. É relativa à própria divisão que observamos no excerto em questão: a divisão para a qual o  poeta alerta. Alberto Caeiro fala-nos nas “almas humanas que põem tudo em ordem” e que “traçam paralelos de latitude e longitude/ Sobre a própria terra inocente”. Estabelece desde logo o antagonismo entre o vício humano de intelectualizar a realidade e a capacidade de desfrutar a própria Natureza. Portanto, nesta composição, decidimos colocar os versos que descrevem essa “triste” atitude do ser humano ordenados em poema (respeitando o esquema formal da poesia) precisamente para comunicar esses aspectos relativos ao intelecto humano e que comandam a existência (a lógica, a forma, etc.). Por outro lado, e para estabelecer o contraste, decidimos investir nos elementos que Alberto Caeiro valoriza e que constituem a única verdade: daí as partes do poema referentes às “árvores absolutamente reais” e à “própria terra inocente mais verde e florida que isso” sirvam de base para ilustração tipográfica de uma árvore e da terra. A terra e a árvore destacam-se, transmitindo, assim, a crença do poeta num mundo sem sombras e que deve ser sentido através da simplicidade da Natureza.

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